segunda-feira, 29 de março de 2010

O jornalismo está de luto

O grande mestre das crônicas esportivas, Armando Nogueira deixa o jornalismo de luto. Dono de um estilo único que marcou a vida de todos aqueles que como ele, são apaixonados por futebol, Armando é aquela figura que permeou a infância daqueles que desde cedo acompanharam as transmissões esportivas no Brasil. Também pudera, o mestre cobriu quinze Copas do Mundo e sete Olimpiadas. Ficou mais conhecido pelo seu trabalho no jornalismo esportivo, mas antes de se dedicar á uma de suas maiores paixões, foi responsável pela criação do Jornal Nacional e esteve a frente do jornalismo da Rede Globo por mais de 20 anos. Amigo pessoal de Nelson Rodrigues que também escreveu crônicas esportivas, tinha no amigo uma referência.

Armando é aquela voz marcante que a gente reconhece assim que assiste um documentário esportivo, ou quando houve os comentários daqueles jogos antigos que de vez em quando revemos, numa espécie de saudosismo daquelas épocas em que o futebol era mais lirico e menos comercial. Em que havia somente talento e vontade ao invés de craques da midia e contratos milionários. Armando Nogueira era o expoente máximo do lirismo no esporte, era ele que sempre nos lembrava da fantasia do futebol arte e não nos deixava esquecer de lendas do futebol que encantaram o mundo como Garrincha e Pelé.

Comparo sua perda com a de Paulo Francis, outro grande mestre do jornalismo brasileiro, e que nos deixaram um tanto quanto desamparados, carentes de modelos a serem seguidos. Que seus legados continuem e sirvam de referência para tantos novos jornalistas que surgem munidos de ferramentas tecnológicas, mas desprovidos de ideais e convicções.

Hoje o jornalismo lamenta a perda de um mito e espero que no futuro não lamente a perda do respeito, da ética, do compromisso com a verdade e acima de tudo da falta de grandes jornalistas que se dedicam a profissão por amor.

sábado, 27 de março de 2010

O Caso Nardoni

Não vou falar aqui sobre justiça, inocentes ou culpados. Eu quero levantar uma reflexão sobre o que tudo isso representa para nós cidadãos. O fato que aconteceu não tem nenhuma justificativa, e que alguém merecia ser punido pelo crime ninguém tinha dúvidas. Mas vamos pensar na nossa justiça, na influência que a mídia tem sobre as pessoas e acima de tudo nos nossos filhos. Muitos podem dizer que a justiça foi feita e que os culpados pagarão pelo crime, mas será que 31 anos de prisão é suficiente para reparar todo mal que um pai fez a própria filha, mesmo porque sabemos que é pouco provável que essa pena seja cumprida integralmente. De qualquer forma nada pode trazer a pequena Isabella de volta. E quem sabe o que sofreu a pobre garota, de semblante tão amável? Acredito que nessa história Isabella não só foi a vítima por ter a vida tirada de maneira tão cruel, mas por talvez viver num ambiente em que talvez houvesse uma certa negligência por parte daqueles em que ela confiava. A madrasta era descontrolada? Como que uma pessoa que nutre tamanha raiva por uma criança inocente é capaz de gerar dois filhos? Há pessoas que não gostam de crianças, e isso não é crime, desde que não atente contra a vida delas. E pressupõem-se que essas pessoas não vivam em ambientes cercados de crianças e nem tenha filhos. E o pai, será que ele ama mais o dois filhos menores do amava Isabella? Qual a diferença entre eles? E mãe que apesar de afirmar que a madrasta não gostava da menina, ainda a deixava passar os finais de semana na casa do pai? Você deixaria seu filho ser maltratado por outra pessoa? São coisas que me intrigaram no decorrer desse julgamento.
Outro fator importante que devemos questionar é a competência da nossa polícia e o nosso sistema judiciário. Durante a apuração dos fatos, perícia e todo os procedimentos envolvidos no processo, houve discordância entre laudos, resultados imprecisos, contradição de testemunhas, o que gerou o questionamento por parte da defesa. Será que os nossos peritos são bem treinados? Será que nossa polícia é bem equipada para realizar exames e analisar as possíveis provas de um crime? Se fosse um caso mais complicado, que envolvesse mais pessoas, será que nossa polícia seria eficiente em solucionar o caso e apontar os verdadeiros culpados ou levariam equivocadamente a julgamento pessaos inocentes. E agora o que falar sobre nosso sistema judiciário. Levaram os réus a juri popular, armaram um circo digno de filme americano e declararam culpados o pai e a madrasta que foram condenados respectivamente a 31 e 26 anos de prisão, coincidentemente o que corresponde exatamente a idade de cada um e o que levaria a cada um deles a passar metade da vida na cadeia. Mas o fato é que sabemos que há muitos artifícios legais para o abrandamento dessa pena e talvez no máximo eles cumpram apenas metade dela entre regime fechado e semi aberto. Será que já não está na hora de haver uma mudança no nosso código penal? Ou até quando vamos ver pessoas cometendo crimes hediondos e contando com a "forcinha" da justiça para reduzirem suas penas.
E por fim gostaria de falar a respeito da influência da mídia na formação de opinião. Desde o acontecimento do fato, Alexandre Nardoni e Anna Jatobá foram tratados como culpados, fato que levou a defesa deles a dizer que a polícia conduziu as investigações de forma que os incriminassem. As pessoas estão muito acostumadas a pensar da maneira que a televisão as leva a pensar. Se a Globo tivesse interesse que eles fossem considerados inocentes, será que a abordagem dos fatos seria a mesma? E o que dizer das pessoas que fazem de tudo para aparecer na mídia e fazem declarações baseadas em "achismos"? Sem contar a questão financeira. Ou vocês acham que não há pessoas que aceitam dinheiro para falar o que for conveniente ou simplesmente se calar?
Não estou aqui para defender ou acusar ninguém, mesmo porque acredito que esse julgamento não cabe a mim. A minha intenção é que esse triste acontecimento sirva de alerta para que cuidemos com mais atenção de nossas crianças, que cobremos mais da nossa justiça e que principalmente não engulamos tudo o que a TV tenta nos empurrar garganta a baixo. Isabella não precisava perder sua preciosa vida para que nós abrissemos os nossos olhos. Vamos vigiar para que fatos terríveis como esse aconteçam cada vez menos. E que Isabella com seu olhar angelical possa descansar em paz!