sexta-feira, 1 de abril de 2016

Ainda bem que não houve golpe

O mês de março de 2016 foi politicamente tenso. O que começou como manifestações contra a corrupção e insatisfação com o momento político/econômico do Brasil aos poucos foi tomando uma direção perigosa. Nós começamos a dividir nosso país e nossa nação no "nós" contra "eles", uma dicotomia estúpida como se só houvesse duas opções para tudo. Ou você é a favor do governo e portanto petista ou você é contra o governo e está do lado do PSDB. E a coisa foi ficando pior. Se você usa vermelho é comunista,  petralha, vagabundo e o nível só vai descendo. Se você não defende o PT você é fascista, elite, coxinha e não liga para povo. Tivemos grandes manifestações nesse mês e todas foram importantes. E importante principalmente para podermos observar que enxergar tudo sob apenas dois pontos de vista está equivocada. Será que todos que participaram da manifestação no dia 13 são a favor do PSDB/PMDB no poder ou "seguidor" do Bolsonaro? E os que são a favor da permanência de Dilma na presidência, será que todos que se manisfestaram a seu favor estão de acordo com suas decisões ou contentes com a situação do país atualmente? É claro que em ambos os lados há pessoas sem noção que levam posições e opiniões ao extremo e infelizmente esses não lutam e nem protestam por um país melhor, veem apenas seu próprio umbigo. 

Depois da manifestação do dia 13 que levou milhões de pessoas à rua, ouvi algumas comparações com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade. Para quem não sabe ou não se lembra, essas manifestações  aconteceram em várias cidades do Brasil em março de 1964 e eram contra a "ameaça comunista" e antecederam a queda de Jango. Achei exagero. Fato é que depois dessa manifestação houve muita gente exaltada nas ruas e a tensão aumentou. As centrais sindicais, assim como militantes do PT e todos os simpatizantes convocaram manifestações a favor da presidente Dilma. Falou-se muito sobre golpe. O principal grito de guerra dos que vestiam vermelho foi "não vai ter golpe". Chegaram a comparar o momento atual com o vivido em 1964, e inclusive a cronologia dos fatos. Confesso que no dia 17 fiquei apreensiva e preocupada. Dadas as circunstâncias, temi que houvesse confrontos e uma onda de violência pela cidade. Cheguei a pensar no pior e desejei que não fosse necessário mortes para que buscássemos um melhor entendimento dos fatos e da situação. 
Para mim foi um alívio constatar que no dia 18 e nos dias que se seguiram não houve conflito, não houve consequência piores. Tivemos várias manifestações e dentro do possível (porque acho que ainda não compreendemos o sentido completo da palavra) houve democracia. Todos se manifestaram e ninguém precisou perder a vida por defender uma causa, um partido ou uma posição política. 
Hoje (ou melhor ontem, já passou da meia noite) o Golpe Militar de 1964 completou 52 anos, e mais uma vez fico contente por termos errados algumas previsões. Ainda bem que não houve golpe assim como no dia 31 de março de 64. Estamos livres disso? Não sei. Estamos no caminho certo? É difícil dizer. Dia 31 de março de 2016 já se foi, não cometemos o mesmo erro. Que março de 64 seja lembrado como um fato triste de nossa história e que sirva de lição. Não sei qual será o futuro do nosso país, mas esse dia independente de partido ou posição deveria ser um momento de refletir sobre que país queremos daqui para frente. 

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